Seriam os verbos dar e doar sinônimos? Segundo o Aurélio, dependendo do emprego, sim, seriam. Quando se doa, se dá? E quando se dá, se doa? (De preferência sem doer).
São muitas as implicações do verbo dar, que é o tema em questão. Entrega, por exemplo. Na gíria, usa-se dar se referindo ao que é penetrado sexualmente. No entanto, dar, nesse sentido, é uma troca. Se dá prazer, se recebe prazer (na melhor das hipóteses). Quando há envolvimento afetivo, quem dá e quem recebe, quem troca se nutre em níveis que ultrapassam o meramente físico. Não só o centro energético básico é ativado. O amoroso também é e o bem-estar se prolonga por horas... Coisa rara de acontecer no comportamento descartável e descomprometido que se tornou o padrão sexual de hoje e que leva os envolvidos à insatisfação constante e consequente busca frenética por mais e mais prazer. "Era livre, sim. Podia me entregar a quem quisesse e me entreguei. Dei meu corpo, minha alegria. Mas, sentia-me vazia. Esvaziada assim que qualquer corpo acabasse de me preencher." (Considerações de BEATRIZ sobre sua atuação na área "amorosa")
Saindo do âmbito sexual, dar, no sentido material, tem a ver com desapego, renovação de energias. Será por acaso que recebe-se tantos pps sobre se libertar de objetos que não tem mais sentido, que triscaram, de roupas que não cabem mais no armário, sapatos? Campanhas e mais campanhas de doação para os menos afortunados? Seria um exercício de generosidade? Comandado por quem? Pelos mentores espirituais do planeta? Um grande mestre sufi recomenda a prática da generosidade nem que seja como remédio. Uma forma de ir além do egoísmo. Despojamento. E o que é egoísmo? Se nutrir com a própria gosma. Só pode dar indigestão. Consultórios cheios. Sorte de quem se dedica à profissão de terapeuta, na qual me incluo, quando não estou em cena. Giramos, mergulhamos em nossos meandros, criando formas-pensamento destruidores para nossa auto-estima, nos tornando "interessantes" pela dor que infrigimos a nós mesmos, pelo prazer de degustar quanto somos sofredores, nos compadecendo de nós mesmos pelo que nos vitimiza... Egoísmo. Egoísmo em escala elevadíssima. Tenho direito a tudo porque sofro, o calvário me serve de salvo-conduto para a negligência recompensada nos ceús! Pobre Cristo eternamente preso na cruz, atrelado à dor que se renova a cada ano, infalivelmente! É carma!, dizem os que se pretendem espiritualizados. Estou pagando pelo que fiz em outras vidas!, esbravejam ou se lamentam, envoltos na forma-pensamento do crime e do castigo. O planeta transformado em vale de lágrimas! Será que é assim mesmo? Tem também aquela história de a mão esquerda não saber o que a direita dá. Será que meros mortais pecadores como somos todos nós, buscadores da verdade ou não, será que conseguimos atingir um grau tão elevado de doação humilde? Está certo que não fica nada bem contribuir com algum orfanato, asilo ou similar e sair estampando em todos os tablóides ou comentando com os amigos a "generosidade" vaidosa... Mas, será que conseguimos não dizer a nós mesmos que fizemos um ato de desprendimento? Nos contos orientais é recorrente a maneira como reis, mercadores, príncipes distribuem riquezas e presentes para os necessitados. É bonito.
Me pergunto: compartilhar arte com o público é doação? E trocar intimidade com alguém? Dar e servir tem o mesmo significado? Onde termina a doação e começa a vaidade? Saber receber afeto é uma dádiva que se faz a si mesmo?
Não sei responder. Alguém pode me dar as respostas?