Se cadeira de balanço tivesse, nela estaria me embalando enquanto espero.
Vejo um filme, mexo a panela, tomo mais um gole, olho pela janela, tento entender a linguagem das estrelas, sacudo o pé, dou uma olhada no espelho, até banho tomo, me perfumo, troco de blusa, e espero.
Papo rápido no telefone, entro novamente na Internet, revejo as estantes, escolho outro livro, folheio aquele que me leva a outras épocas, dou uma volta no quarteirão, olho as pessoas, passeando com seus cachorros, evito o cocô espalhado nas calçadas (nem todos recolhem a merda dos cães), olho as nuvens, continuo à espera.
Sacudo o corpo, bordo mais alguns pontos, rio com a amiga ao telefone, investigo o endereço da clínica do médico amado e competente que voltou a atender, tomo mais um gole, lavo a louça, olho as unhas, leio dois parágrafos, suspiro, limpo as flores murchas, brinco com a gatinha, vou de novo à janela, exercito a garganta, tento memorizar mais um trecho do que tenho a dizer, e sinto o peso da espera.
Olho de esguelha pro aparelho telefônico, será que o celular tocou e eu estava no banho e não ouvi? Verifico novamente a Internet. Ando prá lá e prá cá examinando as paredes úmidas, não tinha reparado que há um novo broto na samambaia chorona, fora de época, jogo a bolinha prá gata, dou mais um pouco de delicinha prá ela, pequenos nadas pontuando o nada maior.
Por que o silêncio? Prá que? Ouvirmos um ao outro, sabermos um do outro não é um alívio para a distância que nos foi imposta? Mandei uma, mandei duas, mandei três mensagens. Sem resposta. As chamadas foram feitas por mim, será minha a saudade, somente minha?
Então, tá. Quer saber?
Tomo outro banho, visto uma roupa bonita, ponho um perfume sutil e bem feminino, pinto os olhos, as unhas, escovo os cabelos, bebo mais uma taça de vinho, como umas castanhas, olho bem o ambiente, guardando bem guardado na memória cada canto impregnado pela minha espera e espero, continuo esperando que o sonífero faça efeito. É muito tarde, muito tarde, é tarde demais!
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