Mais uma vez agradeço à Mariana pela ajuda.
Gosto de Natal, sempre gostei. Quando criança, a ceia era na minha casa. Morávamos no Flamengo, na Senador Correa, esquina com Paissandú. Era um prédio de griffe, que foi derrubado. Fiquei anos sem conseguir passar pela rua, até que um dia me enchi de coragem, peguei minha filha, tomamos o 573, S.Salvador/Leblon, me postei frente ao edifício e fiquei olhando, olhando aquele monstro que me roubara todas as lembranças visuais de anos e anos de vida. Difícil aceitar demolições. Tenho horror a elas até hoje. Odeio quando derrubam casas, sofro como IdéiaFix, o cachorrinho do Obelix, quando derrubam árvores. E não me venham falar de progresso! Há um monte de cidades européias que se mantém como são sem essa gana assassina de crescer, crescer, crescer sem critério. Amava Floripa como era; agora, aturo a cidade, fazer o quê? Tem todos os defeitos de uma cidade grande sem as qualidades, apesar da beleza das praias, etc. etc., o que já se sabe. Peixe frito no Arante é maravilhoso, né mesmo?
Voltando ao Natal, erámos muitos, tios, tias, primos em graus longínquos, vó, vinda de Manaus para a festa, tocava-se muito piano, que a família era musical, cantava-se, (aí, Ana, a musicalidade é de berço), trocavam-se presentes. Sempre gostei de ganhar presentes. Me sentia amada, fazendo parte e isso, fazer parte, para uma pisciana encucada era e ainda é altamente importante. A árvore era armada, o presépio, também. A ceia era à meia-noite, hora em que os presentes eram distribuídos. Amava ficar acordada até tarde. Não sei se a façanha de participar da festa acontecia quando eu era bem pequena, acho que não, porque eu acreditava em Papai Noel e escrevia (ditava?) cartinha prá ele. "Noite Feliz" era cantada e eu me emociono até hoje com a música. Bobona assumida. Nessa noite, me era permitido tomar uma taça de champagne (doce! argh, levei tempo prá aprender a curtir uma brut), em festas de casamento, também. Talvez por isso seja uma aficcionada de um bom espumante, de festas de Natal e de casamento... Até pouco tempo, ainda tinha uma ou duas taças de champagne bojudas, lindas, de cristal. Foram quebradas em alguma das inúmeras festas que costumava dar no antigo Mocó dos Abacates, no Campeche. Gosto de uma festa, de receber, encher a casa de gente, escolher as músicas. Agora, morando em apartamento, complicou. Fase de recolhimento. Mas, boto pilha para a realização de festas em casa de amigos, adorei as que a Zuleika Zimbabue promove, embora frequente pouco, e curti muito as que os jovens da montagem de "Zylda: anunciou, é apoteose!" inventaram. Dançar é muito bom. Dançar junto, então! Mamãe fazia festinhas prá comemorar meus aniversários, nem todos os anos, porque a grana era curta, mas sempre tinha um bolinho, guaraná e o piano tocado por ela animava a criançada!
Pois é, Natal, festas de aniversário, festas muitas, festa da vida! Gosto da alegria que rola, seja falsa, seja induzida, mas, alegria. Gosto de prazer, de compartilhar, de fazer parte. E Natal prá mim, é isso: fazer parte, renovar energias, lembrar. Jesus Cristo ainda é uma figura meio longínqua no meu universo. Decididamente, não gosto de ver sua imagem crucificada nas igrejas, nas casas, no pescoço das pessoas. Não gosto da idéia de dor que transmite, de sacrifício doloroso. Prefiro aquela que aponta o coração, indicando que é nele que está a verdade que se quer atingir, o desejo oculto, o ser escondido à espera de revelação. Grata, Kiko, por ter me ensinado a ver isso.
E nesta tarde esplendorosa com que somos brindados hoje, desejo a todos um muito feliz pós-Natal, pleno de serenidade e com bastante movimento prá desgastar os excessos que se fez em nome do Senhor!