Novas paragens. Grata, Mariana e Claudia! Como proposta de ano novo, indispensável em despedida de ano velho, escreverei com mais assiduidade.
Prometi à minha filha, Ana Baird, definir transgressão. Hoje, minha insolência está quieta. Talvez, não seja o dia ideal para discorrer sobre o assunto, mas, promessa é dívida, como dizia vovó. Sendo assim, vamos lá.
Aurélio: transgressão: ato ou efeito de transgredir; violação, infração. Transgredir: passar além de, atravessar; desobedecer a, deixar de cumprir, infringir; violar, postergar.
Meu nascimento foi um ato de transgressão. Pai e mãe casadinhos, com benção de padre, família e tal não fez parte da minha vinda ao mundo. Mãe viúva, pai estudante, paixão galopante e cá estou eu. Culpa e demais implicações sobre o fato ficam entre mim e o(s) terapeuta(s). Graças a esse histórico básico que me foi desvendado mais cedo do que eu seria capaz de compreender, desenvolvi uma rebeldia que a aparência pisciana de boazinha sempre encobriram. Daí prá frente, listemos.
Faço parte de uma geração em que a mulher desobedeceu às normas vigentes e gozou com estardalhaço. Comprei pílula anticoncepcional e Tampax ruborizada, mas comprei e usei, sem ser casada. Ih, casamento oficial só depois que minha filha tinha 10 anos e não foi com o pai dela. Transgressão. O rapaz em questão era quase vinte anos mais novo do que eu. O 3º e 4º maridos, também. Sorry, Suzana Vieira, anjos sempre me fizeram companhia. E de graça.
Beber muito, ir aos bares, dançar em boates gays, berrar nas ruas contra a ditadura, trocar a noite pelo dia, ser artista, ir atrás do prazer, ora, transgressão. Ser honesta, reclamar dos críticos diretamente para eles, (nem sempre o ato de transgredir é inteligente...), abandonar a cidade natal, família, amigos, prá tentar a vida em plagas menos famosas faz parte da carreira transgressora.
Usar os cabelos vermelhos antes de ser moda, mantê-los grisalhos, idem. Não investir em cirurgia plástica, me horrorizando com os espectros que vejo por aí, falsamente jovens, o botox interferindo na expressão, (existem raras e honrosas exceções, há quem tenha sorte na mãos de um cirurgião) e comer de acordo com a minha fome, ah, vamos combinar, tem transgressão melhor? Dividir apartamento com a primeira mulher do ex-marido, formar tribo com os filhos de múltiplos casamentos dos amigos, agora faz parte das regras, mas não era assim, fomos nós que começamos, essa geração transgressora. Todos envelhecemos, alguns caretearam, eu, inclusive, mas continuo transgredindo. Conhecer o companheiro da vida aos 45 anos, sobreviver a quatro paradas cardíacas sem sequelas é transgressor, faz parte do inconsciente de quem é assim, casar de véu e grinalda com quem se é casada há milênios, e, aos 65 anos, gordinha, grisalha, rebolar no palco, seduzindo os cavalheiros da platéia no meio de 25 jovens lindas e lindos, como acontece em "Zylda: anunciou, é apoteose!" ah, que delícia de transgressão! Choca. E ganhar La Gonga cantando "Bonita e Gostosa" das Frenéticas?
Coisa boa viver! Coisa boa ser singular. Somos todos, do jeito que somos.
O que me levou ao assunto foi uma tarde chuvosa, foi ouvir "Do it again", música que mexe com as minhas entranhas, foi recordar tardes de amor clandestino, foi o desejo de transgredir again, and again, and again para sempre, que, "é sempre por um triz".
Respondi, Ana?
O horário está errado. Agora, são 15h47.
ResponderExcluirOi Margarida, adorei o texto sobre a transgressão. E no meio da milicada a transgressão é vista como coisa ruim ... Eles não têm 'savoir faire', definitivamente!!
ResponderExcluirBeijos do Antonio
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCoisa boa é ser feliz, com o que se tem, mas com perpectivas de melhoras e lutando por elas, sempre!
ResponderExcluirBeijão!
(Só para constar... embora não utilize muito este blog...)
Claudia Venturi...
Essa é a minha cumadi, irmã, companheira de sempre. Muitas, muitas saudades.... Beijocas, Rose
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