Amanhecer no Campeche

Amanhecer no Campeche

sábado, 16 de abril de 2011

Aqui, agora, já!

Minha amiga Vascô reclamou da falta de postagem. Com razão. Travei. Quiz escrever um adeus prá Cunha que se foi há um mês. Não fiz. Quiz comentar dois ou três filmes que me disseram alguma coisa. Não deu. Pensei em comentar um livro que amei. Qual o quê. Me senti, nesses tempos, e ainda me sinto como se estivesse sendo empurrada prá lá e prá cá, o mundo me bombardeando, o trabalho interno me puxando, um vazio, preenchimentos, cena, figurinos, expectativas, a vida em suspenso, intensa, sendo vivida num fio ao som de tambores, cores, purpurina e Beatles, contraditória. Águas devastando cidades, deuses!, que difícil confrontar ao vivo, em cores, o pesadelo recorrente companheiro de infância, adolescência e maturidade! Ali, na cara, devagar e sempre, sem som, as águas carregando a vida, transformando matéria em escombro, afogando respirações. Foram-se anéis e dedos. Nesses momentos, reza-se com mais fervor! Colada à insegurança, à visão palpável da impermanência, o agradecimento: estou viva, a filha está viva, os amigos estão vivos, a família está viva! Aqui e agora, estamos em segurança. Enquanto a cunhada se despedia. Lá se foi, gerando com sua viagem espirais de mudanças indesejadas, promovendo questões que não se respondem, às quais ainda não se encontraram as soluções. Há quem prefira morrer a se mexer. Há quem prefira perder a chance, deixar prá outra o que talvez pudesse ser dissolvido agora. (Ou não é nada disso?). Há quem sequer consiga sentir o dedo mínimo, tal a rigidez. Há quem acredita que é melhor morrer do que ceder seja a dor, seja um pouco menos de autocomplacência, sentimento que os anglo-saxões desprezam, um pouco mais de auto-amor, que sei eu? E há os que julgam os outros. É assim, é assado, poderia ter sido diferente, deveria, tinha que, ái, que cansaço!!! A existência tem sido   regida por cores. Cinza, tons escuros, muito escuros, tons pastéis, vermelho intenso, um leve dourado. Anestesia, antiinflamatórios, antibióticos, repouso, inchaço, tonalidades de cinza chumbo a preto. Regada a episódios de Law & Order e manchetes do Jornal Nacional, vira breu! No ensaio de (Be)atriz, as cores se tornam fortes, vibrantes, ráfagas de amarelo, laranja, rosa forte, até vermelho pinta. Às vezes, me sinto como João Bobo, sendo empurrada de um lado prá outro, amparada, sim, mas sem descanso. Dá prá desabar? Dá prá dizer que é muito de uma vez só? Que estou com medo? Que está difícil segurar a onda e ser madura? Que é muita coisa junta acontecendo ao mesmo tempo, sem pausa prá um bom picolé sem culpa? E a lapidação continua... Mais objetos tomando outros rumos, boas notícias da turma de longe, intuições aflorando, cursos novos, novos enfoques, aprendizado, mudança de química, belos dias de outono, dicas de amigos para questões difíceis, suporte, o amparo dos braços de quem encaminha o João Bobo, sem pausa. O picolé fica prá um intervalo qualquer que será não sei quando. Quando? Dá prá perguntar? Sem lamentações nem queixas. Não dá prá comparar. Dizem que o frio vem conforme o cobertor. É possível. Há novas maneiras de se colocar a cadeira prá ver o sol, os ângulos variam, e aprendi que a onda vem forte, mas passa. Que cada vez que a terra treme, a lama sufoca, os prédios caem,  há florais que ajudam a superar a dor, há medicamentos para o corpo e para a alma. O poder, o poder de verdade, o poder da verdade, esse, é imutável, presente. Aqui e agora, nessa respiração, o ser é. E não há nada que possa alterar a consciência daquilo que é. Os cães acreditam que são humanos. Os gatos acreditam que são deuses. É assim que é.

Um comentário:

  1. Difícil ser humana, muito difícil acreditar, quase impossível ser otimista. Mas o instinto de sobrevivência é maior. Há quem se delete e há quem se esforce pra levantar o queixo e encarar o desastre. Difícil ser. Mas, somos.

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