Prometi a mim mesma que escreveria com mais frequencia, afinal, é um exercício que muito me agrada, escrever. Então, vamos lá.
Adoraria ter escrito mais cedo sobre as férias no Pântano do Sul, praia deliciosa no sul da Ilha, cheia de barquinhos de pescadores, restaurantes à beira da areia dura, boa de caminhar por ela, mas dei uma adoecida pós retorno ao lar. Agora, a vida cotidiana já retomada, quero compartilhar a delícia que foi. O mar do Pântano do Sul é frio, cercado por morros e dunas tombadas pelo Ipuf, não se podendo construir nelas, e o desenho é de uma pequena enseada, talvez não tão pequena como pode dar a impressão. Consigo percorrê-la desde o costão esquerdo até a divisa com a praia da Solidão e voltar em 40, 50 minutos aproximadamente, sem muito esforço. Como o vento sul andou soprando, a água estava mais quentinha. As férias se passaram em meio aos cantos de sabiá, muitas plantas, sol forte e chuvaradas. Li alguns livros, bordei um pouco, consegui dar uma revisada na base do curso de italiano, comi muito, bebi cervejas, algum vinho e umas champagnes. Cozinhei, também. O marido relaxou bastante, namoramos, recebemos amigas no nosso chalé, nos deleitamos com o só fazer o que queríamos, com o não compromisso, fundamental para refazer as energias gastas durante o ano que foi bem puxado. Até hoje me surpreende o fato de a harmonia entre duas pessoas ser possível, de haver integração serena e terna sem exigências, nem desvios de comunicação. Durante toda a minha vida, nos meus relacionamentos mais íntimos parece ter havido como que um véu empanando o fluxo dos sentimentos mais leves. Só agora, já com a idade que tenho, depois de passar por inúmeras crises e superar todas elas, ou pelo menos não ficar tão incomodada com elas, é que usufruo de momentos de paz na relação. (Tem gente que é complicada mesmo e me incluo no rol. As esquações a serem resolvidas se sucedem). Será que é a maturidade, finalmente? Será que é porque não preciso mais provar nada prá ninguém? Será que é por ter finalmente compreendido que o negócio é comigo e que minha felicidade depende só de mim e do jeito com que lido com os perrengues que nunca deixam de incomodar? Não que eu tenha ficado um amor de criatura, ihh, longe disso. Há uma agonia, uma impaciência, uma irritação que fazem parte da personalidade, que escapam ao controle, quando vejo, pronto, já estou soltando os cachorros. Há momentos que exigem posicionamentos mais cortantes, mas por que cargas d´água é o mais próximo que tem que sofrer o desequilíbrio emocional que descentra e separa? Na praia, vivi instantes de unidade. Fico feliz e agradecida por conhecer o fluir silencioso do amor por outra pessoa. Não é necessário dizer nada, declarar, nem há arrebatamentos, é um sentir quase contemplativo, como se o ser do outro fizesse parte do nosso proprio ser, sem distâncias. Talvez seja esse o sentimento que Chico Buarque chama de a "calma dos casais". Anos de intimidade, idas e vindas, conversas e mais conversas, terapias, orações e eis que acontece.
Há uma regra de comportamento sufi que recomenda guardar na memória momentos de bem-estar para poder usar quando as coisas não estão correndo tão bem como gostaríamos. Antes de voltar prá casa, olhei um vestido que comprei da griffe "Arara na Areia" e lembrei que fiquei tão feliz quando o adquiri que ele se tornaria um símbolo da alegria vivida ali, na simplicidade de tomar um banho de mar, dar uma caminhada, sentar com os pés na areia, comendo umas ostras ao bafo, um peixinho frito, de ouvir deitada na rede o canto afinado de um sabiá, rodeada de silêncio, sons de folhas, água rolando no pequeno lago, de estar com os livros escolhidos para aquela ocasião, de dar pontos no bordado do momento, apenas sendo o que sou, apenas observando o outro ser o que é e pronto. Por um tempo, curto que seja. Gravando nos registros da vida, tecido feliz.
Lindo texto Margarida!! Um ano do coelho cheio de alegres descobertas e encontros pra vcs!!!
ResponderExcluirQue lindo mamãe!
ResponderExcluirGotty, amada.
ResponderExcluirEstamos tão próximas nesse desejo.
Descomplicar deveria ser fácil, né?
Vc faz com que pareça.
Felicidade é merecimento.
Vc merece.