Amanhecer no Campeche

Amanhecer no Campeche

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dia de amigas

Maria da Graça veio almoçar comigo. Fazia muito tempo que não nos visitávamos, ela, às voltas com filhos e netos e eu, por aqui mesmo. Inventamos um bazar e aproveitamos a ocasião de recolher os objetos, para um tricô básico. Fiz um peixinho assado prá comermos e brindamos com água de côco. Como diz meu amado Chico, "quem te viu, quem te vê"... (Temos em nosso histórico compartilhado litros e litros de diversão regada a vinho, cerveja e espumante.) Será velhice? Será juízo? Será consciência trazida pela maturidade inevitável? Tim, tim. Conversamos um montão e, se falamos de outros, além de nós mesmas, foi bem pouco: estávamos ansiosas para trocar figurinhas, contar nossas descobertas (chá de sucupira é o must do momento), rir das alergias que nos assolam, comentar o quinhão que nos toca nessa vida de aprendizado, já que fazemos da busca pelo autoconhecimento o nosso motivo maior. Bom compartilhar as vitórias dos nossos filhos, elas são nossas, também. Bom saber que tem gente protegendo nossas fontes e matas, pessoas dedicadas ao bem comum que vivem de forma simples, no chão batido, fogão a lenha, comendo sem agrotóxicos, mas utilizando no trabalho comunitário todas as descobertas avançadas da tecnologia. No bazar, lá se vão mais ítens dos 100 que me propus descartar até meu aniversário. No fim do ano, descartei os 100 primeiros. A sensação é tão boa, que resolvi investir em menos 100. Já estou no ítem 67. Tenho duas semanas prá desapegar de mais 33. É um exercício e tanto. E vai-se descobrindo o que realmente importa. Venho de uma geração que guarda tudo, como bem descreve Eduardo Galeano. Me faz mal o consumo desenfreado e o troca-troca constante tão em moda. Mas, desapegar é um verbo que precisa de conjugação exatamente pelo hábito de guardar. Precisamos ter, ter, ter por não acreditarmos no suprimento, na abundância à nossa disposição. Acreditar na miséria é uma criação coletiva do ser humano. Como se a felicidade, o bem estar viessem de fora, estivessem longe de nós. Anos de crença limitante... Bombardeio externo em busca de ter. Quem sabe um dia seremos...
Continuando o dia de amiga, fui visitar o blog da Vascô. Um prazer. Escreve bem, gostoso, solta os cachorros, brinca, inventa histórias. Vascô é amiga de longa data. Me socorreu em momentos turbulentos, compartilhamos muita vida e sempre nos vemos quando vou ao Rio. Prestigiou a festa dos meus 60 anos, no Campeche. Que delícia tê-la e ao marido ali, na minha casa, no meu jardim! Amizade é um bem único. É enriquecedora a troca entre pessoas com referências comuns. Mesmo que os fatos se misturem na memória alterada pelo tempo, pelo "alemão" que ronda nossos neurônios... Se fosse possível, estaria com minhas amigas de longe muito mais vezes no ano e por mais tempo. Aproveito o momento e declaro a todas e todos, que também há homens nesse rol, os de longe e os de perto, que tê-los é um presente imenso, uma benção renovada, mesmo aqueles que já se foram, seja do planeta, seja do convívio, seja do coração. Amo meus amigos, são fonte de nutrição, embora tenha vontade de bater em alguns, eventualmente! Nos momentos em que vemos a saída tão clara e eles insistindo em manter os olhos fechados! Mas, fazer o quê? A vida de cada um a cada um pertence e temos mais é que cuidar da nossa própria, protagonizando nosso agora. Agora.

2 comentários:

  1. Ei, Gotty.
    Entendeu, agora, porque preciso de você?
    Porque você rega, com carinho, minha vida, me inspira e me ajuda a traduzir, em palavras, a Babel interior.
    Adorei seu diário, mensário, anuário.
    Que bom que temos esse canal para escoar nossa amizade-amor.
    E como é bom poder, ainda, compartilhar experiências, histórias, vida, com alguém do nosso tempo.
    Bjs, querida.

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  2. Margarida Baird!!! Tu és demais, li 05 posts sem parar, te encontrei pelo blog da Mari :) beijos e posta sempre mais, adorei ler cada um!
    \o/ e já está na minha lista!

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